Num mundo globalizado,
onde se apregoa a liberdade de expressão, onde se observa um incentivo a
criatividade, o que me deixa mais surpresa e intrigada é que tudo isso não
passa de uma farsa muito bem elaborada para a manipulação das massas.
Quando li, há algum
tempo atrás, uma súmula sobre a Caverna de Platão tive a certeza das
dificuldades que temos para enfrentarmos as mudanças, abandonarmos os antigos
conceitos e crenças e nos embrenharmos em novas aventuras para o nosso
desenvolvimento pessoal e criativo. Existe uma grande tendência natural de nos
acomodarmos em nossa zona de conforto e aceitarmos a papinha diária,
deixando-nos enganar como se fosse um alimento nutritivo.
O impacto maior,
confirmando esta triste realidade, foi quando terminei de ler “A Caverna” de
Jose Saramago. Durante toda a leitura me senti incomodada com a descrição do
autor de um assunto tão atual, onde somos peças descartáveis quando não
atendemos as necessidades de um grupo dominante, inescrupuloso e manipulador,
onde o poder vem disfarçado de um protecionismo e nos brindam como a “pílula
cor de rosa”, que quando ingerida nos será concedida “a felicidade eterna”, só
que quando acordamos, nos vemos presos numa teia, sendo engolidos.
Não é de estranhar que
mesmo diante de tantas inovações tecnológicas, de tanto incentivo ao
desenvolvimento pessoal e profissional o mundo esta adoecendo a vistas grossas
e o sentimento de vazio e solidão é cada vez maior.
A manipulação
publicitária, através dos diversos meios de comunicação, nos inundam com
informações subliminares nos incutindo condutas e valores, na maioria das vezes
distorcidos, nos prometem liberdade, quando na verdade nos aprisionam. O mais
triste de tudo isso é que nos tornamos cegos e insensíveis. A vida, o ser se
torna banal. A satisfação real fica nas mãos dos que nos comandam como se
fossemos um brinquedinho de controle remoto, nos direcionando de acordo com
suas necessidades egoísticas.
A cobrança é cada vez
maior, o retorno, cada vez menor, ou impossível de ser desfrutado. Os que são
capazes de enxergar, os sensíveis são tidos como seres anômalos e
marginalizados, são um risco para os comandantes de uma sociedade adestrada.
Quando nos revoltamos e
demonstramos nossa impotência diante de tamanha máquina destrutiva somos
tachados de depressivos, afinal o mundo é assim, vocês têm que se adaptar,
subentendendo, mantenham-se na sua zona de conforto, alegrem-se em sendo
vorazes consumistas.
Conduta fácil para os adestrados mas, depois que os olhos
se abrem, é difícil apagar a memória, mas o mais difícil, ainda, é encontrar um
caminho para manifestar a revolta.
Há os que tentam através de suas obras
literárias ou artísticas, mas a mente dos adestrados não conseguem atingir o
entendimento e enquanto isso vamos continuar pagando caro os ingressos para
visitarmos a Caverna de Platão e nos deparamos com nossa própria imagem
refletida no espelho e não reconhecermos a nossa própria imagem.
O mais difícil, depois de refletir sobre o texto, é ter que enfrentar o "espelho e não reconhecermos a própria imagem"!
ResponderExcluirMuito cruel ser massa de manobra para sermos aceitos como integrantes de uma comunidade permissiva.
As pilúlas cor de rosa, em mim, já não funcionam mais!
A minha indignação não acaba tão simplesmente assim!
Acho que o tempo longo que passei na Caverna de Platão me fez ter visão deformada sim, mas, por ser de difícl adestramento, já não quero mais pagar esse ingresso!
É, amiga, estamos vivendo um momento difícil, estão tentando nos acorrentar dentro da caverna, e o pior que uma grande maioria já se deixou encarcerar e acham que são livres
Excluir