sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

COMODISMO x MUDANÇAS

A CAVERNA DE PLATÃO
Em sua obra, A República, Platão faz uma alegoria, “onde pede para que imaginemos homens aprisionados numa caverna, sem nunca terem visto o mundo exterior. São mantidos acorrentados e de costas para a entrada, sequer podendo mover a cabeça para se voltarem e se verem uns aos outros ou a luz do dia atrás de si. Um fogo é mantido aceso na entrada da caverna, e as pessoas que passam diante dele projetam sombras de si mesmas e de suas cargas sobre a parede a frente dos prisioneiros. Se acaso um passante falasse, o som ecoaria dessa parede e os prisioneiros suporiam, naturalmente, que as palavras que ouviam eram pronunciadas pelas sombras. Como estão nessa terrível situação desde que nasceram, os prisioneiros julgam que a realidade nada mais é que essa exibições de sombras tremulantes. Ora, se um desses homens fosse subitamente libertado de seus grilhões e levado a se voltar e encarar a claridade, teria os olhos ofuscados e feridos pela luz do fogo e do dia. Não estando habituado a luz, não conseguiria ver claramente quem passasse pela abertura da caverna e não acreditaria de pronto estar olhando para um mundo mais “real” que aquele em que cresceu. Precisaria primeiro fitar coisas menos luminosas, como as estrelas no céu noturno e reflexos na água, antes de chegar a contemplar objetos a plena luz do dia. No final seria capaz de encarar o próprio sol e compreender que é ele que determina as estações e lhe permite ter percepções” (1)

Platão há mais de quatro séculos antes de Cristo já fazia uso de alegorias, assim como Cristo também dava os seus ensinamentos através de parábolas. Ainda hoje este recurso é muito usado, talvez nem tanto quanto em épocas remotas, mas é muito rico para adquirirmos uma percepção através de nosso inconsciente. E, muito mais interessante, que só entendem os que estão abertos para uma transformação interna.
A sombra nos da a impressão de algo não palpável, normalmente escura, e impossível de agarra-la, mas não nos larga, nos acompanha onde quer que formos, só não esta presente onde há a ausência total da luz. Muitas vezes nos assustamos com ela.
Em psicologia também temos uma definição de sombra dada por Jung muito interessante, mas, mais direta e clara: “a coisa que uma pessoa não tem desejo de ser” (CW 16, parág. 470). ... repetidas referências à sombra como o lado negativo da personalidade, a soma de todas as qualidades desagradáveis que o indivíduo quer esconder, o lado inferior, sem valor, e primitivo da natureza do homem, a “outra pessoa” em um indivíduo, seu próprio lado obscuro... (2)
A caverna de Platão, por si só, mostra a rigidez as mudanças, bem como o quanto uma incredulidade inicial pode gerar conflitos e um retorno a mesmice e, consequentemente, paralisações. Grande parte desta paralisação se dá em virtude da energia gasta para encobrir este lado sombrio, que muitas vezes é inconsciente, e em parte por estarmos acorrentados, por nossas crenças adquiridas ao longo da vida, nos impedindo de crescer. Só temos um olhar, a sombra, uma visão incompleta e deturpada da vida e do mundo.

O mundo esta sofrendo transformações, observa-se uma sociedade doente física, emocional e espiritualmente. Na verdade uma sociedade que esta dentro da caverna, produzindo uma geração que não esta tendo a oportunidade de ver a luz e somente a sombra. Uma sociedade que não pensa, não tem responsabilidades, só vê e acredita na sombra de um mundo externo projetado, mas que não é real.
Somos nós que estamos criando esta sociedade do futuro. Até quando ficaremos na caverna?


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- N. Fearn: Aprendendo a Filosofar em 25 lições: do poço de Tales a desconstrução de Derrida - A caverna de Platão, pg. 42; Ed. Zahar, RJ; 2001

2- Dicionário crítico da Análise Junguiana; http://www.rubedo.psc.br/dicjung/verbetes/sombra.htm